Com um estilo peculiar e livre de qualquer rotulagem, o canadense B.D. Gottfried entrega o seu décimo álbum que se chama “Ghosts & Girls”. Lançado de forma independente, este ‘full-length’ já está disponível em todas as plataformas de streaming e conta com o single “Two Worlds”, que falarei daqui a pouco. Primeiramente, quero dizer a você que não conhece a obra do artista, que Gottfried concebeu este disco com a colaboração de Siegfried Meier, a quem dividiu a produção e algumas composições. O artista também já participou de eventos com músicos que, normalmente, trabalham com artistas do quilate de Elton John, David Gilmour etc.
Em “Ghosts & Girls”, Gottfried explora várias musicalidades, como se suas ideias surgissem de forma natural e logo criam forma. Para entender melhor essas palavras, o cantor transita pelo pop, rock, heavy metal (só para citar algumas vertentes) com muita intimidade. A primeira faixa, “Butcher, Baker, Little Bombmaker”, por exemplo, possui clima épico com guitarras saturadas. Quem faz sequência a este primeiro momento é a música que dá nome ao álbum. Sua estrutura aponta a um caminho mais progressivo com grande performance de voz e um andamento perfeitamente cadenciado. Aqui, na segunda canção, o cantor já mostra que é versátil.
Na mesma linha progressiva e com uma textura melódica mais expansiva, a canção “You, Me and This Half Dead Dog” traz um conjunto de sonoridades capaz de aguçar os nossos sentidos. Como destaque, se levanta a leveza da melodia que, conduzida por uma vocalização em efeito de eco nos abraça calorosamente. Agora, como dito, o single promocional “Two Worlds” revela uma beleza impressionante, tanto em sua condução melódica como na timbragem expandida das bases. Outro atrativo é o próprio tema que versa sobre as embarcações espanholas no início do século XVI, quando chegaram à Mesoamérica. Confira o videoclipe no YouTube.
O álbum, que possui onze canções, também mergulha em sessões mais relaxantes, porém cativantes, como em “Crystal City Soldiers” que transmite sensação de bem-estar, além de renovar energias. Este é o ponto do disco em que podemos usufruir de nossa própria companhia em momentos de reflexão e meditação. E essa sessão mais melancólica chega até “The Unmarked” que, em certa altura, evolui para um ritmo cadenciado com arranjos suaves e uma sutil guitarra com timbre mais limpo. A alternância entre andamentos é regida por uma ponte harmônica que faz as melodias se entrelaçarem brilhantemente entre as nuances.
Imediatamente retornando à sessão mais pesada, temos “Live, Fight & Die” que tem uma arrancada pop rock mais algumas incursões de hard rock, como no solo curto e contagiante que abre uma parte mais empolgada. Contudo, alguns elementos mais trabalhados como frases de piano, deixam a canção com um perfil virtuoso. E tem mais, o setor da cozinha que é responsável por grande parte do peso da música, é simetricamente bem direcionado com uma bateria potente e um baixo bem marcado. Já digo que, para mim, esta é a melhor execução do álbum e você pode curtir também a sua versão em lyric video no YouTube.
Com energia parecida, porém mais cadenciada a música “Never Surrender to the Flame” também pode despertar o interesse de quem gosta de um bom rock’n’roll. Com uma voz sempre segura e cheia de personalidade, Gottfried se encaixa perfeitamente bem nesse tipo de canção, pois o seu alcance vocal é longo e sem esforço algum consegue fazer boas finalizações. Isso é típico de cantores veteranos que não tem o que aprender mais sobre técnicas de canto. Este artista com sua voz há tempos domina o que é preciso fazer. Como bem você pode conferir na audição, trata-se de um exímio profissional.
Em “Warbird”, o clima progressivo é trazido novamente por um arranjo pomposo enveredado em uma atmosfera límpida. Embarcar nessa melodia é como pegar carona em uma nuvem transportada pelos ventos. O mesmo efeito de câmara na voz, amplifica o alcance realçando mais o estilo soturno da música. Esse passeio sonoro se encaixa em “Pressing Flowers” para a continuação da viagem. Aqui, adequadamente, aparece um belo arranjo de guitarra que agrega muito valor à melodia, embora os vocais de Gottfried já se encarregam majoritariamente de enaltecer esse e outros valores. Tudo aqui se destaca pela perfeição.
Com “Wrapped in Still Silence” não poderia ser diferente, pois a última canção do álbum “Ghosts & Girls”, conforme está relacionada nas pistas digitais, apresenta uma estética sonora moderna, com fluidez harmônica e o melhor de todos os efeitos de guitarra apresentados até aqui. Um verdadeiro soar de cristais emitido das seis cordas. E com isso, B.D. Gottfried consegue prender o fã com um trabalho complexo, porém harmonioso, ao mesmo tempo em que é cativante pela inteligência das composições, acamadas por uma produção atual que, como boa colocação, também aponta ao estilo clássico. Prepare-se para adentrar a um terreno virtuoso.
Ouça “Ghosts & Girls” pelo Spotify.
Veja o videoclipe de “Two Worlds”.
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