Com uma sensibilidade elevada para a música, Apollo Ray consegue prender a atenção por meio de boas melodias e arranjos incríveis. É assim que se comporta o seu primeiro álbum completo “In Orbit”. São oito execuções de puro brilho e lindeza, a começar por “From This Moment”. De início, ouvimos uma música expressiva, mas para gerar essa expressão o sintetizador assume papel de regente que guia a nós por um caminho extrassensorial. Essa atmosfera eletrônica e épica atinge em cheio o gosto daqueles que preferem sons clássicos e, muitas vezes, vanguardistas. Isso já denuncia as primeiras influências de Apollo Ray.
Todas as músicas representam viagens astris, mas o clima também pode ficar mais espesso e ganhar mais elementos, como em “My Accomplice”. A segunda música do repertório possui uma estética dura e ritmos ditados pelo cadenciamento da bateria. No entanto, a voz continua flutuante, lém de impactante. Essa canção, na verdade, é um típico hard rock aos moldes dos anos setenta. Consideremos a chegada desse estágio no álbum como uma fase mais pesada. Mais à frente, teremos vários outros exemplos de harmonia, melodia e coerência musical desse disco para o mundo do rock, pois Ray deixa valores que agregarão à cena por muito tempo.
Apollo possui uma veia jazzística muito evidente, mas o que há em seu lado vanguardista é ainda mais rico. Trechos de pura harmonia não perdem o rumo ao se misturarem com outros mais complexos. Músicas como “Vitamins” ilustram essa ótica com belo tema. O que podemos extrair dessa dedicação é nobreza aliada à fluidez sonora. Todas essas qualidades se devem ao talento de o músico sempre buscar sair de sua zona de conforto, para trilhar em terrenos desconhecidos e, com isso, trazer novidades para apresentar ao seu público. Para quem gosta de músicas que fogem de uma lógica real e enveredam a um campo fantasioso, aqui é um bom lugar.
Diante de tanto experimento, é natural que músicas como “Motion In Inertia” se aproximem do psicodelismo. Aqui, isso acontece com grande precisão, pois a construção musical desde o início até o final dos desdobramentos, busca na complexidade um terreno farto para sua exibição. Esta é uma das maiores intenções da obra, que é promover sensações através do tempo e espaço dando uma ideia de uma plataforma suspensa e orbital. Ao nos deixarmos envolver com o clima promovido pela música, nós mesmo nos sentiremos leves e flutuantes.
Mas a coisa pode ficar mais elegante com a música “Electrickery” e, como em todo álbum, a canção é ornamentada por quilos de efeitos de sintetizador. Apollo investe tanto nesse recurso que, para muitos, o seu estilo pode até se encaixar na arte surrealista. Às vezes o seu vocal fica até em segundo plano diante da enorme tapeçaria de climas produzidos nas músicas. No entanto, tais inserções cumprem papeis importantes devido ao campo harmônico envolvido. Às vezes como efeito de esteira, outras vezes como pulsar os efeitos seguem envolvendo o ritmo de cada faixa como cartões de visitas, ou mesmo riffs.
Pessoalmente, se posso escolher uma música preferida neste disco, essa é “Between The Sunlight”. Alguns motivos me fazem tomar essa decisão, como a condução da cozinha. Note que a pegada da bateria é bem viva e, apenas isso, distingue muito das demais músicas onde apresentam uma pegada mais introspectiva. Aqui também, os vocais estão mais evidentes, mas são as melodias que eles geram ao cantarem os versos que se destacam. Por fim, estamos diante de uma canção tanto cativante quanto empolgante. Embora não seja das mais complexas, a sua melodia tem poder de grudar e fazer bem aos nossos ouvidos.
A faixa seguinte, “Another World, Another Life”, parece nos arrastar sobe as águas tranquilas de um lago e é meio que um ápice do experimentalismo de Apollo. Suas músicas, além de estarem inseridas em um nicho de vanguarda, possuem um lado épico que nos reporta a trilha sonoras de filmes. Esta, por exemplo, é um alvo certeiro para adornação de cenas fantásticas e ambientações de ficção científica. Isso mostra que o músico possui influências variadas, não apenas no universo musical, mas também nas telonas. Dessa maneira, Ray segue arregimentando muitos seguidores para as suas composições e produções, assim como fãs.
Ao final do álbum, a faixa título aparece trazendo boas sensações com os mesmos elementos de sempre. “In Orbit”, a música, é tão cercada de mistérios e embelezamentos quanto as demais. Por conseguinte, transmite uma sensação a mais e esta não é nada boa, pois é a sensação de que o álbum terminará e a nossa sessão de relaxamento de mais de meia hora, chegará ao fim. Contudo, se você for esperto deixará a tecla repeat acionada e aproveitará uma viagem mais prolongada. Bom, brincadeiras à parte, “In Orbit” é mais do que um álbum de música, ele é simplesmente uma experiência de vida.
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