Muita gente conhece Alice Gift da dupla Velvet Condom, mas desde 2019 quando lançou o single “Glow”, a artista franco-alemã trabalha em seu projeto solo que consiste em mais sete singles e dois álbuns. O primeiro, “Alles ist Gift”, foi lançado em 2021 sob o cenário da pandemia que aterrorizava o mundo. Depois disso, a cantora que é uma personalidade do músico e compositor Nicolas Isner, chega mais uma vez com o novo álbum “Nothing Against Uplifting, But …”. “Demorei muito para lançar um novo disco, mas espero que tenha valido à pena esperar, porque acho que se tornou algo bastante heterogêneo, com um drama digno de mim”, explica Alice.
Este segundo full-length, em parte, foi composto por algumas sobras de estúdio do primeiro álbum, como disse o próprio autor: “Há algumas faixas de gravações inacabadas do meu álbum de estreia”. A faixas que Alice se refere são “Pride”, que é uma música melancólica, envolta de um clima nebuloso e melodia muito soturna. Outra que também veio do período de gravação do ‘debut’ é “Headwar”, com um compasso um pouco mais cadenciado. No entanto, segue também uma melodia ácida que reporta a um tema de sarcasmo dentro de uma linha post-punk. Por último, “This Time”, que igualmente seria aproveitada em “Alles ist Gift”, é mais uma canção sombria de atmosfera depressiva e com arranjos vultosos.
Em outra parte do recente álbum, foram inseridas canções antigas como “To Live And Die In L.A.”. Esta canção seria uma recomendação da produção de um filme. “Esta escrevi para um projeto de filme que nunca foi lançado”, revela. “To Live And Die In L.A.” possui um andamento um pouco mais balançado e arranjos bem new wave. Outra que também foi composta alguns anos atrás, é “Krypta”, que é uma peça de efeito sonoro que abre o álbum e, que, o próprio autor a define como “Uma coisa estranha que estava dormindo no fundo de uma gaveta”. Sinteticamente falando, a arte musical de Gift transcende os níveis lucidez de uma pessoa, cuja vida social é dominada por paradigmas religiosos e midiáticos. Tais músicas, sons e percepções inseridas aqui serve como ponte de libertação para tudo isso, mesmo que por algum tempo até você retornar à sua vida forçada à mediocridade. Por outro lado, se você é o tipo de pessoa de espírito livre e sem etiquetas sociais, certamente será o próximo fã desta cantora genial.
Sobre a concepção do álbum, Alice fez tudo quase sozinha em seu lar, em Berlim (ALE). Algumas ideias foram produzidas durante ensaios, como linhas de bateria. Outros trechos, vieram à tona em estúdio, como a própria comenta cantora: “Quase tudo neste disco foi feito por mim, parte no estúdio de gravação (Salon-Berlin), parte em casa, bem como algumas gravações de bateria na sala de ensaio”. Com esta declaração, podemos deduzir que a cantora e compositora também costuma enveredar pelos caminhos da produção. Uma perfeita seguidora da filosofia ‘do it yourself’, ou no bom português, ‘faça você mesmo’.
Apesar de ser uma artista independente, Alice Gift alcançou feitos que, para muitos outros cantores, são marcos impossíveis, como produzir trilhas para filmes e até série da Netflix, bem como canção sua, especificamente “Trance Park” do último álbum, figurar em programação da Rádio Eins de Berlim. Toda essa expressão que antecedeu o lançamento de “Nothing Against Uplifting, But …”, serviu para o surgimento de mais canções para o seu repertório, como a dançante “Pride (Prequel)” que é uma de suas últimas composições, e nela podemos perceber uma vibe mais ousada do estilo da cantora, que imprime uma melodia mais flexível, beirando o groove com recursos eletrônicos.
Essa evolução, ou podemos dizer, “guinada”, vem se movimentando desde algum tempo, e toda essa liberdade de criação dentro de um conceito de qualidade, pode ter gerido em sua própria carreira um autopadrão, pois os seus arranjos, climas, voz sensual e ao mesmo tempo sinistra, se tornaram suas identidades de forma que ninguém faz igual. Talvez uma das consequências de tantas peculiaridades, fez valer turnê com nomes como Actors, Clan of Xymox, She Past Away, Film School, Light Asylum etc. Outra consequência, sem dúvida, é ter um seu álbum o produtor Tad Klimp, que trabalha com nomes como The Notwist.
O resultado de toda essa dedicação, despojamento e “disciplina” você ouve em “Nothing Against Uplifting, But …”, que também tem a excelente e crucial colaboração da tecladista Djamila Paris e, mais importante ainda, tudo preservando a gloriosa essência do mais destacável nível de dark music, synth pop, rock’n’roll e ambient sound como está figurado na tenebrosa, nebulosa e assustadora instrumental “Too Much Outside”. Esperamos que a mística Alice Gift encontre sempre espaço para escrever, compor e produzir suas ideias para nos presentear com a sua arte fabulosa. Que venham mais álbuns intrépidos como este.
Ouça “Nothing Against Uplifting, But …” pelo Spotify.
Para saber mais sobre a obra de Alice Gift, acesse seu site oficial.
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