Em tempos onde cada vez mais o ouvinte se permite menos ao contato musical (as redes de streamig atestaram que a média de tempo ouvido em uma canção pela maioria dos usuários é de trinta segundos!), é perfeitamente entendível porque a sonoridade de perspectiva ambient reverberada por Brian Eno, vem sendo tão incensada ao redor do planeta. A necessidade de permitir-se frente a experiência como se estivesse em um estado de transe, relaxado e absorvendo cada insight que os permeios minimalistas se instauraram, vem promovendo uma sucessão de novos artistas, lançamentos em primazia no sentido global e uma visibilidade ao gênero realmente surpreendente nesta década que se inicia.
É exatamente disso que tratamos frente ao mais recente trabalho em formato de álbum do artista e produtor canadense Ghislain Caya, o exultante e magnífico “Music for Dreams”! O multi-instrumentista mergulha numa seara conceitual diversificada para construir sua jornada sensorial arrebatadora: sintetizadores analógicos e digitais, fitas micro-cassete e manipulador de fita bobina, efeitos diversificados (também dentro da variável digital e analógica), projeções caseiras e percussões variadas. E todo esse aparato na arquitetura promulgada neste projeto, foi um dos fatores para a construção de uma verdadeira obra-prima dentro do estilo!
A introdução onde o synth em crescimento gradativo dialoga com os sons provindos de elementos da natureza, rezam a tônica de “A Minima”, onde dentro de um espectro de trilha-sonora, com imagens sendo materializadas incessantemente pela condução ancorada em mistérios, embarcamos definitivamente na viagem surpreendente de “Music for Dreams”. Os sintetizadores novamente sem a mínima perspectiva de pressa em construir seu universo imagético e sensorial, faz de “Deep Sleep” um momento antológico nesse trabalho. Já citamos Brian Eno, mas é inevitável não rememorarmos o mestre Vangelis neste registro. Apesar da influência declamada, a faixa exaure personalidade, denotando uma identidade artística realmente assombrosa frente ao gênero! Temos um cenário lúgubre de ficção-científica, e a sétima arte mais uma vez é rememorada perante o sedutor processo instaurado.
Muitos efeitos também são emulados em “Dans les bras de Morphée”, e partindo de uma premissa espiritual que muito tivemos acesso na new-age. A sensação aqui é de elevação frente a perspectivas invisíveis, pois a sonoridade alcunha níveis épicos mediante o contexto. “Le cordon d’argent” suscita uma espécie de continuidade dentro da ondulação, mas expandindo ainda mais a diversificação perante incisões minimalistas que acabam trazendo para o ouvinte uma sensação de elementos surpresa que realmente impacta de maneira furtiva.
O “duelo” entre essa parede de efeitos desprendidos com os sintetizadores em profusão contínua, proporciona passagens por dimensões envoltas em processos soturnos, mas simultaneamente emergido em alcunha de elevação. E obviamente cenários distópicos vão sendo prontificados a cada passo que se estimula dentro dessa ação. É simplesmente MAGISTRAL, e ficamos devidamente assombrados por perceber que ainda estamos na metade do álbum, que muito aparato suntuoso está vindo por aí…
“Events Conjonction” continua o processo de caminhar em um universo paralelo, onde sonhos e realidade são devidamente colocada a postos, assim como uma viagem quântica entre as estruturas do tempo. É inevitável não remetermos a trabalhos clássicos do audiovisual, mas especificamente fui “abduzido” até a paisagem soturna e repleta de sombras com chuvas fortes simultâneas da série alemã “Dark”. Assim como “O Mágico de Oz” serviu de guarida para o imponente “The Dark Side of the Moon” (Pink Floyd), irei mergulhar nesse experimento que partiu da inspiração advento dessa singular e maravilhosa canção!
“Quiet Awakening” nos remeteu ao fundo do mar, onde cada olhar é condizente a um espanto referente ao surgimento de imagens. Obviamente a música ambient tem esse poder, de despertar perante a experiência prerrogativas bastante particulares, que irão variar em tons concisos frente a troca que se dá entre indivíduo e música. E o que os sintetizadores proporcionam aqui, é realmente avassalador! Como o próprio título já denuncia, “Astral Projection” e seu estado épico de “viagem ao abismo do ego”, nos proporciona exatamente um ensejo de viagem cósmica sem a devida companhia do corpo físico. Como somos surpreendidos incessantemente, a tensão acaba fazendo parte do processo, e sabemos que em algum instante teremos que voltar… Um dos momentos mais sublimes desse álbum que fatalmente estará em todas as listas de melhores de 2023 ao final do ano!
Assim como o estado dúbio “brotante” de “Paradoxal”, mais um título extremamente condizente com os ensejos vívidos emanados perante essa junção fantástica de efeitos e sintetizadores. O “jogo” de perguntas e respostas perante uma camada atmosférica admirável, onde paradigmas etéreos são incessantemente desprendidos, mostra com clareza a genialidade que tivemos o privilégio de discernir frente a esse trabalho absurdamente irrepreensível em seu intento! A encore com o singelo nome “The delicate memory on our dreams”, é revigorante e passa distante do clima de encerramentos dos trabalhos. A intenção de Ghislain Caya é que realmente esta jornada sensorial não tenha fim, e para que o teria se é tão incrível em seu resultado como um todo? Basta colocar em looping e com certeza terá experiências diferentes a cada audição. SENSACIONAL!!! Disponibilizado abaixo:
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