A música, além do seu mote principal que é ser arte e entretenimento para todos, serve para uma amálgama de coisas, além de ser composta por diversas outras. Música também é experimento, química, física e matemática, apesar de não ser uma ciência exata. Mas, não tenha dúvidas que as abordagens com qual ela pode ser feita, são infinitas.
Se você está procurando algo convencional, para relaxar ou descontrair, pule esse review. Se bem que no último caso, o da descontração, este disco pode se encaixar, pois no final de tudo se trata de música. Mas, a dica principal é que não estamos diante de algo convencional.
Convencional aliás nunca foi o objetivo deste trio alemão de Berlim. Formado por Jo Wespel / Beatdenker (Guitarra, Efeitos, Composição, Produção), Felix Henkelhausen (Contrabaixo, Efeitos) e Max Santner (Bateria, Efeitos), o Sinularia surgiu em 2016, quando Jo veio de Dresden a Berlim várias vezes para testar suas composições e encontrar um baterista e um contrabaixista interessados em uma banda de longo prazo.
Logo ele encontrou Felix e Max, e o vínculo deles foi formado por filosofias musicais compartilhadas e pelo desejo de criar música inovadora que combinasse instrumentos acústicos com paisagens sonoras eletrônicas. A química entre os membros se traduz em uma dinâmica de banda harmoniosa, séria e nostálgica, que lembra a camaradagem sentida na juventude.
Agora, cheguemos a uma das peças fundamentais de sua música, este seu mais novo disco, “Subwater Beats II”, que traz paisagens aquáticas onde o comum passa longe, a excentricidade grita e o experimental dá as cartas.
Instrumentais, as músicas não procuram um lugar comum, não se entrega a melodias, muito menos batidas convencionais, mas são utilizadas com o intuito de unir alguns elementos orgânicos à sintetizadores caóticos (na maior parte) que ditam as bases a serem impostas.
Composto por 14 faixas, o disco traduz de uma forma surrealista o que o título sugere (batidas ‘subaquáticas’, em uma tradução livre), imergindo o ouvinte em uma viagem sonora onde sons atípicos são a tônica do trabalho, praticamente sem exceções, permeando os pouco mais de 51 minutos que compõem o disco.
Logo, exige-se um pouco mais de atenção do ouvinte, que deve se conectar com o trabalho após algumas audições mais atenciosas. Até porque o trabalho tem como uma de suas principais características revelar detalhes diferentes a cada uma delas, o que não faz com que uma impressão única seja suficiente para julgá-lo.
“J.3: Subwater Hipster”, a primeira faixa, é uma introdução que dá uma perspectiva do mundo complexo do qual estamos entrando, enquanto surge a faixa real de abertura “3.8: Neo Realism”, que está longe de ser a música mais experimental do trabalho, mesmo sendo muito focada nisso. Imagina o que está por vir.
Logo “J.4: Focusing the Beauteousness” nos deixa cientes disso, com sua batida quebrada e sons mais desconexos, porém ainda assim, mais fácil de compreender do que muita coisa que surge no disco. É nela que teclas experimentais aparecem pela primeira vez e desperta mais instintividade de quem ouve.
“3.6: Hyper Beaming Perspectives” traz um pouco de influência das músicas de games de 16 bits, mas não como efeito de som e sim na abordagem, que traz toques descontraídos e dinâmica caótica. Enquanto isso, “J.5: Kinky Shark Party” serve com um interlúdio chamativo, mantendo certa relação com sua sucessora e fazendo uma ponte interessante com “3.2: Wavey Assuredness”, que traz um teor mais intimista e uma batida cadenciada que vai ganhando contornos desconexos percussivos conforme evolui.
“J.6: Subaqueous Perplexity” continua o teor experimental, mas traz um ar mais brando, servindo como um bom respiro do disco, que ainda está em sua metade e exige bastante do ouvinte. Mas, para quem achava descontração não faria parte do Sinularia, eis que surge “J.1: Pimp Mode in Swimsuits”, que tem até ‘groove’ e uma melodia menos complexa, mas continua sendo tal, afinal o parâmetro não serve muito com suas coirmãs.
“3.3: Undersea Volcano Disco” é outra composição que prima por trazer um teor mais descontraído, mas ainda conta com um fundo misterioso, enquanto “J.2: Phantom Photon Lazer” é o interlúdio mais introspectivo, dando base para “3.5: New Underwater Complexity”, uma faixa mais explosiva, com incursão de vozes, mas não cantantes e até discretas, mas que servem como arranjo.
Entrando na reta final, a desfigurada “J.7: Why Not” pede passagem como se a máquina começasse engasgar, mostrando uma linha de baixo interessante ao seu fundo. Eis que surge, na singela opinião deste que vos escreves, a melhor faixa do disco, “J.8: Progressive Changes of Oneself”. Orgânica e misteriosa, ela parece nos levar a um buraco negro, mas que não seja vazio e propague o som, afinal de contas, é de música que estamos falando. Enquanto isso, “3.7: Subwater Hipsters Hipstering Around” fecha o disco praticamente passando a limpo tudo aquilo que o álbum entrega.
Com uma mescla de utopia e a triste realidade, em seu novo disco, “Subwater Beat II”, o Sinularia tenta pescar todos os resíduos e partículas plásticas dos oceanos e reciclá-los com uma lógica do berço ao berço em formato de música. Magistral!
https://subwaterbeats.de/sinularia
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https://soundcloud.com/sinularia