A maneira com que o piano se movimenta pelo espaço é divertidamente saltante, como em passos de ballet. Ainda assim, o dulçor que dele é transpirada sugere uma imersão em meio a uma paisagem sensorial envolta em uma delicadeza adoravelmente intimista que surte em ímpetos de uma melancolia curiosamente reconfortante.
De cenografia chuvosa, mas não densamente dramática, a melodia se desenvolve a ponto de exortar sua natureza frágil, mas que também mostra nuances de uma pureza ingênua e, sobretudo, juvenil. Essencialmente envolvente através de sua postura educada, generosa e serena, a faixa faz com que o ouvinte, gradativamente, vá mergulhando mais e mais em seu próprio e particular mundo inconsciente de maneira a contribuir, inclusive, com um consequente processo de autoconhecimento.

Valsante, mas mantendo a mesma linha sonoro-narrativa, o que significa se estruturar em um diálogo cíclico, sensorialmente a composição ainda faz com que o ouvinte se sinta, ao mesmo tempo, abraçado por um céu tanto de outono quanto primaveril. Uma coisa, porém, é certa. Luli No. 1 mostra a capacidade de Lucas Joaquin Kania em fazer com que embrionárias tristezas sejam palco de um aconchego associado ao amadurecimento interno particular de cada indivíduo. Assim, com apenas um instrumento, o músico expande os limites do som e atinge o transcendental de forma a flertar, até mesmo, com o etéreo.
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