Ouça Söm Sâptâlahn, álbum de itchy-O que oferece uma ressonância divina

Um som. Um único som. Agudo e completamente reverberante. Esse é o único elemento lexicalmente melódico pronunciado nos primeiros instantes da obra, de forma a lhe dar um caráter que é capaz de fluir do mantra ao psicodélico com evidente versatilidade. Rapidamente seguido por um compasso rítmico simples, mas calcado na experimentação de uma textura levemente áspera em meio ao seu senso curioso de brandura proveniente daquilo que parece ser a contribuição do chocalho, esse primeiro toque sonoro se transforma em silêncio. Um silêncio enigmático que é subitamente interrompido por uma combinação melódica que, de natureza sintética, se mostra em cena sob um caráter puramente alucinante. Tal como se fosse a melodia de um rito de hipnotismo, Chontaré – Original se torna marcante por misturar essências psicodélicas com um onírico de base audaciosamente sombria.

O som reverberante semelhante ao tilintar de um sino de igreja serve como a premissa da introdução de um novo ecossistema. Mantendo a essência experimental explorada na composição anterior, a presente paisagem acaba se desenvolvendo por meio de um clima aterrorizante, sombrio, gélido e de caráter fantasmagórico propositadamente incômodo. Conforme uma voz sussurrante em sua silhueta áspera é percebida, um compasso percussivo de sangue nativo passa a ecoar pela atmosfera como se fosse uma espécie de cântico espiritual. Explorando nuances ácidas e agudamente tilintantes aparentemente provenientes de objetos corriqueiros, Entangled – Unbinding se torna assustadoramente marcante pelo seu caráter curiosamente folclórico enaltecido pela combinação dos elementos percussivos com o sonar grave de rompantes ríspidos vindos do clarinete. Inclusive, é justamente esse elemento o responsável por criar e enaltecer um viés harmônico de essência interessantemente carniceira. 

Sem qualquer menção de dúvida, é possível de se afirmar que Phenex é a canção mais experimental, audaciosa, ousada e intrigante. Afinal, ela se envereda por sonoridades mínimas, as quais fazem nascer ímpetos melódicos em virtude simplesmente pelo seu caráter reverberante. O curioso, também, é perceber que, aqui, inclusive o próprio silêncio assume a forma de um som onipresente e bidimensional. Através de suas essências cuidadosamente agudas, é como se a canção fosse uma espécie de trilha sonora não apenas de ritos religiosos espiritualistas, mas de longas-metragens de terror do tipo que exploram atividades paranormais. Fazendo com que o ouvinte se veja só e refém de sua própria natureza vulnerável e frágil, a faixa soa como um verdadeiro embate dos modos da consciência e do inconsciente para com os fatores que atiçam as sensibilidades de fraqueza e, acima de tudo, fragilidade.

Definitivamente, Söm Sâptâlahn não é um álbum qualquer. Não é, inclusive, um conteúdo instrumental qualquer. Através das intuições de itchy-O, o produto soa como uma mistura de mantras e cânticos que exploram o espiritual, além de texturas que incitam, propositadamente, um desconforto de natureza perigosamente obsessorante. 

Em meio a uma track list de oito títulos, o conteúdo apresenta uma gama de paisagens sonoras que expandem a sensorialidade do ouvinte a tal ponto que ele alcança um grau de transcendência elevado, mas sem controle. De flertes esteticamente tribais, o conteúdo se vale, simplesmente, pela sua ressonância divina que promove um vínculo primal entre a música e a magia.

Do terror ao esotericamente fantasmagórico, as três primeiras faixas se destacam por serem aquelas em que o ouvinte mais se sente só e desprotegido. Ainda assim, a denso-psicodélica The Expansive Intelligence e a nebulosa The Last Echo também valem certo grau de atenção por proporcionarem um grau de temeridade que torna o ouvinte completamente louco pelo medo de seu próprio medo.

Mais informações:

Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/7h0zddowVwtrYuqoufUI22

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