Hoje quero te pegar pelo bom gosto musical e apresentar o novo álbum do grupo Sharon Ruchman & SONORO, “The Way It Was”. São doze músicas compostas pela pianista Sharon que surgiram de boa relação entre ela e suas influências musicais. Ou seja, esse 14º álbum completo representa, entre outras coisas, lembranças de uma carreira movida pela delicadeza e virtuosismo. Em sua primeira música, que é exatamente a faixa título, você pode observar o estilo nostálgico em que são executadas as partes de piano – sempre protagonistas – e os arranjos maravilhosos, frutos das cordas e percussão. Se você é bom apreciador, ficará contente com essa obra.
A sequência com “Days of Old” revela mais do talento de Sharon que promove uma viagem ao passado ao executar acordes doces e suaves. Convergindo às notas do teclado, o passeio delicado do violoncelo ajuda a exprimir um tema sentimental que pode refletir em nossas lembranças. Dessa maneira, o que Sharon e seu grupo buscam para si acaba surtindo efeito no próprio ouvinte que, de carona, embarca nas recordações adornadas por uma trilha penetrante de melodia e gatilho sensorial. Com o passar dos minutos, nos deparamos totalmente entregues a toda magia emanada das mãos desses músicos.
Sobre as fontes musicais da compositora, ela mesma conta que “Quando adolescente, eu tocava as animadas peças de ragtime de Scott Joplin no piano, acompanhada pelo meu irmão na bateria. Essas memórias, juntamente com a profunda influência de frequentar clubes de jazz famosos na cidade de Nova York para ouvir grandes nomes como Oscar Peterson, Bill Evans, Miles Davis e Dave Brubeck, influenciaram o som do álbum”. De acordo com o que está neste depoimento, podemos ouvir em músicas como “Got What It Takes” o resultado dessa exposição. De fato, podemos sentir em suas habilidades, todo encanto e hipnose do jazz.
No álbum “The Way It Was” podemos observar ritmos que alternam a melodia. Um dos motivos para isso é que essa sistemática, introspectivamente, representa as formas como Sharon se encantava com os temas de sua época. Músicas como “By Chance We Met” atendem a uma classificação menos rápida enquanto outras não. “…a música apresentada neste último álbum oferece uma variedade de peças mais lentas e rápidas daquela época, com uma perspectiva antiquada da vida quando as coisas pareciam muito mais simples”, recorda. Ao olharmos para o mundo de hoje, talvez todos nós desejássemos estar naquela época, querida Sharon!
Embora algumas composições possuam traços melancólicos, outras como “More to Come” contrapõe-se a essa definição. A quinta música deste trabalho é adequada à seção mais “rápida” mencionada pela pianista, pois formula um tipo de audição mais impactante e agitada. Em contrapartida, linhas melódicas inseridas por violoncelo, flauta e atabaque exaltam a leveza. E para reforçar ainda mais esse clima de harmonia, a peça para piano “Ebbs and Flows” prende a nossa atenção com notas mais graves sobrepostas. Sem perder a mão, Sharon comanda as teclas com tanta intimidade que seus dedos se assemelham a varinhas mágicas. Por conseguinte, transforma cada nota em sonetos completos.
Dando seguimento ao dilúvio incessante de melodia, o jazz robusto e audaz encosta ao repertório com “Hit the Road”. Aqui, a graciosa artista divide as atenções do piano com a performance elegante do sax, que executa seus solos como um verdadeiro cavalheiro. Deve-se citar também o desenvolvimento da cozinha sempre marcante lá atrás com show particular do baixo e bateria. Ainda nessa seção mais alegre, ergue-se a animada “Simply Cool” que, na verdade, não é uma música simplesmente legal e, sim, extraordinária pela concepção harmônica e estética das nuances. Apesar de possuir ondas vibrantes é totalmente possível acompanharmos cada transição de notas.
Se existir um novo movimento para a música contemporânea, com certeza Sharon Ruchman & SONORO é pioneiro neste, pois o grupo acrescenta um estilo desafiador ao jazz e música clássica. Inteligência, carisma e autoridade no que faz são algumas virtudes encontradas em quem cria músicas como “Round About” e “Painting the Town”, que parecem brincar com as próprias notas. E olha que este é apenas o trabalho mais atual, pois como dito antes, a turma de Sharon já registrou mais de dez títulos como este, fora outros projetos alavancados no decorrer de sua vida.
Depois da festa promovida pelas antecessoras de “Never Apart”, o clima doce reaparece com a habitual ternura do piano. A melodia cedida pela música parece fazer parte de uma sessão de massagem, levando o indivíduo a um relaxamento profundo. No entanto, sua sucessora “Swingin’” traz um pouco mais da magia do jazz, mas com construções harmônicas que tornam mais versátil a audição. “The Way It Was” é isto, uma imensa fonte de inspiração que não para de jorrar. Um mergulho sensorial dentro de uma mente que, entre outras, se dedicam à boa música. Agradeça a mim por te mostrar isso e à Sharon Ruchman & SONORO por existir!
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