O vento não é apenas sentido através de sua brisa fresca. Ele é percebido por meio de sua voz. Uma voz sombria, soturna e com um viés um tanto cínico que vem adornado por uma essência fantasmagórica gritante por meio de seus uivos cintilantes. Fazendo com que os galhos nus das árvores valsem em sintonia com uma espécie de melodia mórbida solitária, esse mesmo vento propõe ao ouvinte um experienciar de solidão, de tristeza. De desalento. É como se houvesse a aniquilação da memória e toda a vivência exercida pelo indivíduo tenha se acabado junto com a sua vida. A partir de sua passagem ao outro mundo, o personagem vivencia a lamúria e a culpa em uma sincronia dilacerante que tange a melancolia produnda. É o contato do ser com o próprio ser que amedronta. Que apavora. É a descoberta de sua essência e de seus instintos mais primitivos que incomoda. Do mundo das sombras não há volta. Apenas uma reflexão pungente sem fundamento. Bem-vindo a Hisayasu Satō Voyeurism Blues.
O ambiente já é iniciado perante o uso de reverbe. Cada som proferido ecoa no ambiente como se este fosse finito e delimitado por paredes de pedra rígidas que impedem a entrada de luz natural e o contato com o mundo exterior. Aqui não há brandura. Não há suavidade ou tranquilidade. O fato de existir e de estar presente nesse cenário pode até mesmo parecer castigo, uma clausura. Afinal, sob seu chão pegajoso e o bafo que preenche o ar, o desconforto e propositadamente necessário. Quanto mais por ele se aprofunda, o ouvinte tem contato não apenas com as sombras, mas com a culpa, com a dor e com um drama visceral que corrói toda a sua frágil consciência. Assim, Hisayasu Satō Voyeurism Blues – Eulogy Version é mais densa e sombria que sua antecessora. Um produto que faz o ouvinte se sentir completamente solitário. Um mundo sem alma em que os gritos de dor assumem o lugar da gratidão.
Cada uma das faixas tem uma essência, tem uma verdade e uma proposta sensorial. Porém, é inquestionável que o que o Spectre Horsemen Pale With Dust propõe aqui é o contato com a área mais vulnerável do indivíduo. Aquela em que o terror assume forma de consciência e o bem-estar passe a ser o simples senso de inferioridade.
Mais informações:
Spotify: https://open.spotify.com/intl-fr/artist/6JtPmoLhtAmrb9SEdxJXeV
Soundcloud: https://soundcloud.com/spectrehorsemenpwd