Os limites da criação humana para com a arte, são imprevisíveis. A cada era que se avança, descobrimos fatores que nos surpreendem, sobretudo, no mundo do audiovisual. Um exemplo está aqui, no último álbum de ReSet Ryan Tram, “Digital Voyage, Vol. 1”. Caminhando por partes, a formação do multi-instrumentista de Markham (CAN), já proporciona ao ouvinte experiências incríveis, pois o cara é simplesmente mestre em produção musical, tecnologia e inovação pela Berklee Valencia, além de ter lecionado engenharia de áudio, design de som e teoria musical, em uma universidade de Toronto (CAN). Ou seja, o garoto simplesmente vive pela música.
Seus álbuns anteriores, “Home” e “Take Times”, ambos de 2020, já diziam o quanto diferenciado é ReSet. Por conseguinte, a chegada do novo álbum abre novas perspectivas ao artista. Seu estilo, sempre entrelaçado aoo indie, r&b, synthpop, lo-fi, hip-hop e future bass, assim como dream pop, se mistura com as histórias das próprias vertentes. Entretanto, o olhar de Ryan recai sobre a parte visual, onde procura encaixar o som com elementos versáteis à realidade visual criada por ele. Dessa maneira, surgem personagens, cenários, trilhas sonoras e todo o contexto necessário para uma experiência sensorial formidável. Confira em “Digital Voyage, Vol. 1”.
Dez músicas fazem parte deste álbum. A primeira, “Elevate”, já traz todo o peso do experimentalismo sugerindo, de fato, uma elevação nas percepções. De primeira, já notamos a intimidade de Ryan com sintetizadores. Seu talento, associado a sua dedicação no estudo de novas experiências nos remete a um cenário totalmente digitalizado, ainda que seu estilo utilize recursos analógicos. O resultado é uma massa de som robusto com um breakdown que, por sua vez, corta a harmonia ao gerar um colapso entre uma ponte e outra. Entretanto, o efeito que isso causa é uma das facetas de Ryan para impactar o ouvinte.
O “Dgital Voyage, Vol. I”, pela sua nomenclatura, faz uma deixa de que haverá a segunda parte desta obra. Será interessante saber que este trabalho, cujo tema remete à separação de duas pessoas como se estivessem perdidas em um mundo digital, ganhe continuidade com a vinda de mais um tema ou continuação, como em um álbum conceitual. Ryan, que concebe não apenas a música, mas também elabora vídeos ao lado de Andrew Huang (Song Challenge) e até desenvolve softwares nesse setor, construiu a segunda faixa do álbum, “Anew”, com uma base abstrata adornando o seu clima de tensão.
Embora ReSet possua uma peculiaridade na construção de climas épicos, o canadense também se importa com a melodia de suas obras. A exemplo disso, temos a canção “Past The Sun” que possui fluidez melódica, mas surpreende ao final com uma explosão de graves capaz de arremessar energia dos falantes através da sua alma. No entanto, “Above”, título que faz sequência no repertório, é bem mais tranquila. Com batidas introspectivas e um vocal aveludado pela textura da produção, a canção com o título singelo não traz aquele impacto, mas pode levar o ouvinte a navegar por belas águas. Uma reta entre o básico e à virtuose.
Mas se é impacto que você procura ouvir em trabalhos como esse, uma das execuções que pode gerar maior satisfação é “Human”. Agora, cuidado! É recomendável balancear um pouco o seu Subwoofer, pois logo no início ele terá um trabalho extra para suportar uma massa súbita de graves. Na sequência, a música se torna mais versátil para você curtir enquanto toma um bom drink. Se preferir algo mais na linha do pop, “We Are What We Do” pode suprir essa necessidade. Trata-se de uma música um pouco mais comercial, com ótima cozinha e um groove delicioso.
Enveredando por uma trilha mais agitada, “Breeze” dá boas vindas com uma condução melódica cativante, além de dançante. Aqui, podemos conferir um tema mais alegre lembrado até trilhas de desenho animado. Contudo, as batidas em estilo house, nos remetem também às pistas dos anos 90 quando a eurodance era presente nas rádios do mundo todo. Outras músicas como “Plan To Be” possuem uma sonoridade mais suja, mas com uma desenvoltura bem legal. A mixagem na voz, contrastando aos trejeitos instrumentais nos causam sensações variadas. Por conseguinte, abre novas janelas para uma experiência sensorial fora da curva. Mais um ponto para a magia dos botões.
A última dobradinha do álbum começa com “Last May”, uma música influenciada pelo trap e r&b. Com uma belíssima batida, a canção ajuda a definir a história vivida por Blue e Red, personagens centrais que dão significado ao tema do álbum. Tudo se deságua em “Painted Sky”, que é a execução de maior duração do trabalho. Para entender melhor todo esse conceito, você pode conferir o trailer lançado no YouTube, onde os dois personagens – interpretados pelo próprio Ryan e sua irmã Emily Tram – passam por todas as situações propostas aqui. Ou seja, carinho, afago, parceria, briga, separação e tentativa de reencontro. Nada mais perspectivo.
Ouça “Digital Voyage, Vol. 1” pelo Spotify:
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