Seu início soa como se tivesse sido cortado, encurtado. Ainda assim, a atmosfera que dele se cria é de um dulçor entorpecente latente. Surpreendentemente, porém, desse caráter quase esotérico de tão brando, a canção evolui para um cenário sombrio e de essência marginal, urbana. É nesse ínterim que vozes surgem no cenário como palavras soltas ao vento por figuras onipresentes que, por vezes, mais se parecem como obsessores soprando coisas aos ouvidos do espectador. Criando, assim, um clima fantasmagórico, a faixa-título se perde por entre energias dramáticas e, até mesmo, viscerais que contaminam todo o âmbito sensorial do público. No entanto, conforme a obra vai se desenvolvendo, ela permite ao ouvinte a percepção de que seu enredo lírico, na verdade, traz questionamentos do eu-lírico sobre o que deve ser feito para manter a sua própria verdade antes que seu dia final chegue.
É interessante. Afinal, de uma faixa em que houve um experimentalismo sombrio, melancólico, dramático e até mesmo bruto, Sapuis convida o ouvinte a caminhar por um terreno mais brando e de essência mansa. Regida por um contexto fresco, macio e melodioso, a introdução já confere um senso de leveza e descompromisso contagiante capaz de tirar toda a tensão existente nos ombros do espectador. Trazendo uma interessante intersecção entre pop e soft rock ao ponto de criar um clima aveludado e desestressante, We Outside consegue desenhar agradáveis frases swingadas que, com a ajuda do beat e de um baixo ligeiramente encorpado, flertam até mesmo com uma audaciosa paisagem trip hop. Cheia de sotaque penetrante, a canção ainda conta com um time de backing vocals dando destaque a determinados versos pronunciados pelo vocalista, o qual, inclusive, soa levemente embriagante conforme vai atingindo o refrão.
E por falar em embriaguez, esse é um quesito que, de forma inquestionável, faz parte do amanhecer da nova composição. Embebida em uma brandura adocicada e popeada, a introdução traz uma sonoridade sintética denotativamente entorpecente que, facilmente, tira o ouvinte de seu juízo perfeito. Nesse ínterim, enquanto chiados são percebidos ao fundo de forma a dar conotações de uma leve crueza no enredo sonoro, o beat se pronuncia com chimbais sincopados e bem marcados que, por si só, já conferem uma noção de movimento levemente acelerado. Com essa receita, Bet On Myself traz Sapuis dialogando sobre perseverança e determinação na busca e alcance de seus objetivos.
Before I Die é um álbum potente no que diz respeito à disseminação da cultura hip hop e à sonoridade do rap. Ainda que não excessivamente padronizado, o som oferecido no trabalho, inclusive, mostra que é possível fundir gêneros musicais aparentemente desconexos com o som que vem da cidade. Afinal, aqui o rap se funde com o pop e com o soft rock em uma perfeita prova de sua capacidade de interação.
Não à toa que, entre seus 15 capítulos, os três primeiros já são capazes de demonstrar tal constatação. E Sunset Drive, especialmente, mostra ainda mais ousadia por parte de Sapuis por fornecer requintes de psicodelia com direito a uma afiada percussão. É assim que Before I Die se torna, incontestavelmente, em um produto de qualidade.
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