Temos que destacar a auto apresentação do músico radicado na Finlândia, Doron Karavani, sobre seu mais novo disco, este “Time To Rise”, que acaba de ser lançado. Sim, porque é importante ressaltar a gana que um artista tem para compreender melhor sua música e isso fica bem claro nas palavras do próprio músico.
Segundo ele, ele compõe igual faz comida, sempre, todo dia e com sabores diferentes. “Toda vez que preciso deixar algo ir, especialmente se estou me sentindo para baixo, pego meu violão e faço uma música. Isso me ajuda a pensar. E é por isso que muitas das minhas músicas são sobre fazer mudanças – mudanças em mim mesmo, no meu próprio pensamento e ação, e também mudanças que quero ver ao meu redor.”
É um tipo de declaração maravilhosa e, apesar dessa constante mudança, Karavani tem suas próprias característica e uma forte assinatura neste disco, não soando como qualquer coisa ou se perdendo em um emaranhado de influências. Pelo contrário, ele pega sua versatilidade e transforma em sua própria identidade.
Doron nasceu no Iêmen, mas sua família logo se mudou para Israel, perto de Tel Aviv. Em uma passagem pela Índia, conheceu uma finlandesa e para o país natal da garota se mudou quando tinha apenas 21 anos. Isso pode explicar um pouco da universalidade que encontramos em sua sonoridade, em especial neste seu mais novo disco, que é o segundo cheio da carreira.
Doron foi dono e fundador de uma rede de restaurantes especializada em gastronomia do mediterrâneo, que teve mais de 42 restaurantes pela Europa. Logo, sua alusão ao cozinhar e fazer música se explica. Porém, desde a pandemia ele vendeu seu negócio e se dedicou ainda mais à música.
Sorte a nossa, amantes da boa música, porque sem dúvidas esse multifacetado músico internacional, conhece diversos caminhos de diversas sonoridades, mas consegue dar um tempero globalizado, que deixa seu som acessível, de fácil digestão e direcionado para todos os públicos.
“Time To Rise”, que foi gravado no Magnusborg, em Porvoo, teve a excelente e orgânica gravação por conta de Marco Kataja, que também o mixou. Ao seu lado, Karavani contou com os músicos Rob Dominis nos teclados, Niklas Mansner na guitarra elétrica, Thomas Törnroos na bateria, Janne Rajala no baixo, Kalevi Louhivuori no trompete e piano, Heikki Tuhkanen no trombone, William Suvanne no sax alto, Klaus Suhonen e as duas filhas de Doron como cantores de apoio.
O resultado traz nove músicas distribuídas em pouco mais de 32 minutos, onde ele explora o melhor que pode de todas as influências, de todos os instrumentos, com objetividade e bom gosto, além de muito bom senso, pois Doron não cai em armadilhas modernas e nem em truques comerciais baratos.
A abertura fica por conta de “Sky high”, que parece soar fora do comum pela sua posição. Mas, após a introdução comedida de violão, ela cai no rock sofisticado com camadas de indie, já mostrando todo o conjunto da obra, inclusive os metais propícios enriquecendo os arranjos.
“I´ll Be There” chega com leves toques da música americana, não se restringindo a isso pela riqueza dos instrumentos, muito bem encaixados. Destaque para o baixo pulsante, que dá a vibração que a música pede, além do trompete que encanta e é uma das principais bases. Enquanto isso, “Free Time” chega mais branda, com certo som aveludado, graças ao órgão proporcional. Precisamos destacar, sem dúvidas, o quão bom cantor é Karavani, que conduz suas linhas de forma natural, mas muito bem afinada.
A faixa título é um folk moderno muito bem incrementado, onde o violão de bases objetivas ganha a companhia de um órgão magistral, além de um baixo que marca o tempo certo, até a chegada da bateria e sopros essenciais. Enquanto isso “Look At You Now” se mostra incrível por carregar praticamente os mesmos ingredientes de sua antecessora, mas processados de uma forma diferente.
Mantendo a aura do folk moderno e indie folk, “Not Tonight” carrega um ar mais sombrio, com uma explosão de bateria e sopro em seu final que chega a arrepiar. Abrindo a trinca final, Doron entrega a surpreendente “Above The Earth”, que é um rock de arranjos sofisticados, uma dinâmica insana e melodia idem.
Dispensando a percussão e vestindo uma roupagem que deixaria Nick Drake feliz (será?) “Only Love” chega arregimentada de cordas, um piano magnífico e os metais em uma crescente que arrepia qualquer um. “Cath Me If You Can” fecha o disco com um ritmo pra cima, incluindo ‘groove’ bem inserido e dosado, além dos metais mais intensos de todo o trabalho.
Sim, fica um gostinho de ‘quero mais’ após a audição de “Time To Rise”, e isso jamais aconteceria se estivéssemos diante de um álbum descartável e/ou ruim, muito pelo contrário, estaríamos agradecendo por ter terminado. E, isso passa longe, afinal, eis aqui um trabalho muito acima da média!
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