Alguns amigos na Inglaterra se reuniram para discutir ideias e transformá-las em músicas, sob a liderança do compositor e músico Matthew Herd. Este projeto colaborativo passou a se chamar Seafarers e, até agora, já lançou três álbuns. O primeiro, “Orlando”, estreou a banda em 2020, embora todos tenham se reunido em 2018. O segundo registro completo, simplesmente nomeado como “II”, viu a luz em 2022. Neste momento, a cena musical abraça o seu novo disco chamado “Another State”. Lançado pela Bethnal Records, este trabalho é inspirado em histórias existencialistas que combinam situações coletivas, mas também particulares. Isso culminou em um bom álbum de pop tradicional.
Com dez canções em seu repertório, o álbum começa com “Bedwetters”. Musicalmente falando, esta abertura não traz tanto impacto, se colocando como um som bastante comercial. No entanto, a cantora Lauren Kinsella traz alguma coisa em seu timbre de voz que lembra a canadense Alanis Morissette. Mas comparações à parte, é importante citar que o trabalho de melodia dessa banda é bastante alinhado. Nada de complexidades abruptas, sonoridades burocráticas ou indigestas. Na verdade, aqui tudo é muito harmonioso com fluidez livre e bem encaixada. De fato, temos aqui um combo de grandes músicos em um propósito, que é introduzir sua melodia em nossas mentes com o máximo de conforto.
De acordo com a próxima música, que é a faixa título, essa meta é alcançada sem o mínimo de esforço. Com uma técnica suave, combinando à voz da cantora, camadas de teclado geram o riff da canção que é adornado por mais elementos pomposos. Os climas gerados pelos arranjos são introspectivos, o que sugere um tipo de beleza intimista. Nota-se que, para compor essa música, Herd poderia estar em um estado de espírito sereno, pois a sua sonoridade cai sobre nós como um banho de pétalas.
Por ser um álbum com muitos assuntos para inspirar, uma música em especial traz a religião como tema central. Dessa forma, “Televangelists” propõem reflexões ligadas à fé e a inovação tecnológica. No geral, são tópicos que vivem em um eterno paradoxo, mas nas linhas melódicas de Matthew & Cia. as desproporções não parecem preocupar, pois a linguagem universal das notas musicais deixam tudo harmonizado, com expressão serena e amável. Esta é, sem dúvidas, a bela sacada de um conteúdo que tenta retratar uma sociedade em movimento. Além disso, é também uma retratação das várias mutações naturais que o ser humano passa ao viver em comunhão com outros.
A quinta faixa do álbum “Another State”, é mais uma que possui certo significado pessoal para Matthew Herd que, como você sabe, é o compositor de toda a obra. Estamos falando de “Melissa”, uma música que, assim como as outras, é cercada de uma atmosfera linda. Entretanto, a pessoa que inspirou o autor a escrever a letra tomou caminho diferente ao dele. Ao sentir a melodia e os climas que embelezam a musicalidade dessa canção, perceberás que a personagem tinha muito significado em sua vida, por ser amiga de infância. Eis aqui mais uma arte impecável.
Na sequência, vem a música que se tornou single do álbum, “Everything I’d Do (to Get a Hold on You)”. Aqui, as definições de ternura, amor e carinho são atualizadas para um clima melancólico, no entanto, as suas linhas melódicas são carregadas de uma beleza incondicional ao tema sofrível. O solo do sax fazendo quase um dueto com a vocalista, merece destaque. Depois disso, o álbum segue com a canção “Crashing Cars” com leves toques de piano e guitarra, além de um coro doce a combinar com a delicadeza da letra. Aqui, como sempre, Lauren desempenha papel essencial na interpretação.
A maioria das canções aqui, são em estilo balada com uma peculiaridade de ponta de lança, onde a melodia consegue penetrar em nossa alma e fazer morada. Entretanto, há músicas como “Anyone Else” que trazem uma proposta mais pop, com trechos que sugerem uma pegada mais espessa. Mesmo assim, o DNA dos Seafarers é encontrado em todas as notas. A música que avança na playlist é “Tiny Itch” e, talvez seja ela, a que quebra um pouco o padrão, pois aqui o vocal principal é masculino, sendo que a bela Kinsella externa o seu talento no refrão.
A última dobradinha do álbum fecha com “Tough Kids”, que também saiu como single. A música, climatizada por acordes doces de piano e arranjos cristalinos de guitarra, revela mais uma vez a voz doce da cantora. Além disso, um solo introspectivo amplia a beleza desta que é a maior música do disco. Em contrapartida, “A Little Loss” é a menor música, mas gigante em sua melodia que, para se tornar esplêndida, bastou apenas a gravação de voz e piano. Para resumir, os Seafarers deixaram aqui mais um registro de pura beleza inundada em qualidade. Quando se juntam pessoas comprometidas com a arte, o resultado é este.
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