A Escandinávia é uma região onde a música sempre se fez forte, principalmente dentro do rock, heavy metal e eletrônica. Mas, nomes como Abba, Europe, HIM, A-Ha, Nightwish, entre outros, sempre vieram da parte mais de cima, sendo a Dinamarca um lugar mais restrito dentro do cenário musical global.
Do país, os nomes mais relevantes talvez sejam da música pesada, como Volbeat e Mercyful Fate, por exemplo, sem nos esquecermos que Lars Ulrich, baterista fundador do Metallica, é dinamarquês. Logo, não é o mais forte dos países ‘vikings’ em termos de produção, mas quando vem algo de lá, costuma ser sempre bom.
Não deve ser diferente com o multi-instrumentista Jon Brændsgaard Toft, que divulga seu mais novo álbum “Brick By Brick”, um disco de rock que não fecha o seu leque e apresenta, além das habilidades do artista, uma amálgama de influências em 12 músicas distribuídas em pouco mais de 47 minutos. Tudo inspirado na veia mais enraizada do estilo, além de ser completamente orgânico.
Porém, apesar de detalhadas, bem trabalhadas, mostrando técnica apurada de Jon, o que é entregue ao público não chega nem perto da complexidade que o sobrenome do artista traz (risos), muito pelo contrário. O resultado final é de fácil assimilação, assim como gera diversos sentimentos e reflexões.
Tudo com uma produção primorosa, do qual ele soube explorar cada detalhe, captando tudo nitidamente, com bons timbres, preservando o ar clássico e mantendo a naturalidade de cada instrumento. Tudo isso colabora e muito para a proposta do trabalho. Guitarras acústicas e elétricas, baixo, bateria, percussão, além do clarinete e teclados no auxílio, engradecem esse disco que transita pelo classic rock, progressivo, folk, country e todos os derivados, sem fechar o leque, mas mantendo uma aura tradicional.
Isso já fica evidente em “Mr. Johnson”, faixa de abertura muito bem escolhida pra tal tarefa, pois une tudo que o álbum entrega em apenas uma canção. Enérgica, ela traz um contraste com a suavidade, principalmente em seu refrão influenciado por Neil Young.
Aliás, serão mencionadas diversas influências no decorrer do texto, mas que não se trata de dizer que são cópias, apenas e unicamente influências. Como o rock progressivo e psicodélico que se apresenta na faixa título, com direito a um trabalho lisérgico das guitarras.
As influências ‘neilyougnianas” retorna na cativante “The World Is My Playground”, mas mais numa pegada southern rock que chega a arrancar suspiros. Dinâmica, a música mantém a toada do começo ao fim, se revelando uma das mais diretas do disco. E que refrão encantador!
“Among Vikings”, apesar do forte nome, é um desfile de suavidade inspirada pelo folk e carregando muito da música medieval com seu violão dedilhado e fundo de cordas encantador. Serve totalmente como uma trova moderna e reflexiva.
Enquanto isso, “Part Of Something New” é a primeira que traz um tom mais introspectivo e de tensão, encaixando a sonoridade de Jon em algo mais sério e retraído. Porém, nada excessivo ou que descaracterize, pelo contrário. Trata-se de uma faixa que exalta o talento técnico do artista.
E essa introspecção acaba logo que começa a divertida “My Mind Playing Tricks”, que chega num ritmo ingênuo, com guitarras limpas e Jon cantando de uma forma mais solta. A prova direta da versatilidade do álbum que, mesmo abrangente, não perde suas características.
“The New Blip”, apesar do trabalho percussivo diferenciado, volta à tonalidade mais sombria, com o artista investindo em linhas vocais mais sisudas, além de teclados que dão um clima mais oculto ao fundo. Enquanto isso, “Worth A Try”, apesar de manter esse tom sombrio, tem uma melodia mais bela e soa como ‘a’ balada de “Brick By Brick”.
O folk elétrico tradicional aparece em “The Explorer”, uma autêntica canção, mas que não nega sua influência de Crosby, Stills and Nash, porém com um teclado que vem direto dos porões do Pink Floyd. Aliás, é bom ressaltar que a veia progressiva do disco é bem presente, apesar das doses serem pequenas.
A reta final começa com “Somebody Else’s Bed” e seu belo violão inicial, além da voz anasalada de Jon chegar ao seu tom mais dramático e afinado. Totalmente acústica, ainda conta com um teclado fundamental e ‘backing vocals’ maravilhosos. Já “Insomnia” ganha guitarras sucintas e um ritmo mais cativante, abrindo caminho para o fechamento das cortinas com um rock básico e clássico.
O mais legal é que Jon deixou para fechar com uma canção tradicional, com elementos do folk dinamarquês, chamada “The Ballad Of Tír na nÓg”, do qual ele a encorpa com guitarras levemente distorcidas e ‘backings’ femininos que a deixa mais pomposa. Enfim, um fechamento diferenciado.
Fato é que “Brick By Brick” é um disco que pode agradar a fãs do rock feito nos anos 60 e 70, mas jamais passa perto de soar datado. E isso é mais uma façanha desse dinamarquês talentosíssimo chamado Jon Brændsgaard Toft.
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https://soundcloud.com/jon-braendsgaard-toft
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