Um sonar agudo e no limite da estridência recebe o ouvinte tal como o Sol recebe a vida durante seu processo de despertar. Enquanto o espectador consegue se embriagar com o senso fresco da manhã, ele é acompanhado por uma narrativa de pronúncias pausadas que beiram o poético. Vindas de Nomfundo Khambule, elas trazem palavras fortes e sábias carregadas de desejos sinceros e, até mesmo, humildes. São elas que pedem para que a ancestralidade acompanhe o indivíduo no caminho da vida e o proteja dos eventuais desafios que venha a enfrentar. Sob essa estética introspectivo-espiritual, UHAMBO OLUNGAZIWA, funciona como um perfeito prelúdio de ALKEBULAN II, enquanto prepara o ouvinte para as experiências que irá viver no decorrer do álbum.
É como estar no centro de uma reunião celebrativa. Possível de sentir a concentração de todos os presentes frente as palavras proferidas por um sábio palestrante, o ouvinte se vê tomado pela atmosfera de concentração e passa a, inconscientemente, dar o máximo de si nas interpretações daquilo que está sendo dito. Gradativamente, essa espécie de monólogo vai recebendo a companhia de elementos musicais, como instrumentos percussivos e vozes que criam harmonias vocais. Através dessas novas texturas, o ambiente se matura em sua aura espirituosa, enquanto transpira um contágio rítmico irresistível em sua arquitetura simplória. Entorpecido pelo swing ofertado pelo ritmo em suas silhuetas afrobeats, o ouvinte é rapidamente capturado pelo lirismo proferido pelo timbre fanhoso de Matt B. Assim que os backing vocals entram para dar embasamento àquilo que está sendo cantado, WAMBILE é capaz de despertar uma emoção tão intensa no ouvinte que chega a ser inexplicável.
Novas experiências são oferecidas no novo cenário que se apresenta. O frescor segue seu padrão, mas o swing vem diferenciado e, até mesmo, acentuado, através da movimentação da guitarra. Com uma interpretação lírica mais serena em comparação com as anteriores, MIDNIGHT TRAIN traz uma crescente harmônica que, além de arrepiar os ouvintes mais desatentos, chega a formar pequenos veios de lágrimas no seio da face, tamanha a força sensorial fornecida pelo canto uníssono dos backing vocals. Delicada e de energia transcendental, a faixa também é marcada por melodias contagiantes e por um lirismo de mensagem tocante.
Em meio ao sonar ambiente dos animais em seu habitat natural, criando, assim, uma ambiência capaz de fazer o ouvinte se sentir em plena mata nativa, Matt B convida Nomfundo a retomar seu diálogo estacionado em UHAMBO OLUNGAZIWA. Aqui, conforme o lirismo vai se desenvolvendo, elementos percussivos, sons e vozes vão se tornando mais frequentes, despertando no ouvinte uma energia de ebulição gradativa, mas prestes a atingir seu limite de controle. Dessa forma, RENEWAL se apresenta como um interlúdio que preza pela conexão com todos os elementos da natureza de forma a soar como uma gratidão e uma veneração a todo o esplendor da vida nativa.
Difícil de ouvir ALKEBULAN II sem se conectar profundamente com suas energias e seus fortes elementos percussivos. Muito além do que meramente espirituoso, o álbum é um produto generoso e experimental que, embasado em toda a cultura africana, mistura poesia, harmonia e melodia de uma maneira que conecta o ouvinte com a ancestralidade, com a natureza e tudo aquilo que possui vida. Um álbum intenso em sensações que consegue arrancar lágrimas e arrepios com sua densa generosidade estética presentes já nas suas quatro primeiras canções.
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