As pessoas que curtem um som atmosférico, cheio de climas, texturas notáveis e sentimentos, podem se deliciarem aos encantos de Fyremoon, que é um projeto do produtor e compositor Oliver J. Sebastian. Nesta ocasião, falaremos sobre o álbum “Tavern Inn The Woods”, que é o terceiro de seis lançamentos feitos só neste ano. A entrada do repertório apresenta a música “The Long Road To Dunland” que, de cara, se revela como uma bela execução celta. Sua técnica e melodia nos transporta a uma estrada perdida na floresta, onde a névoa fecha todos os caminhos, nos prendendo ao fundo na natureza.
Para dar luz as suas criações, o artista espanhol as hospedou em seu próprio selo, onde distribui a todas as plataformas digitais. Mas retornando ao conteúdo do disco, a exemplo da primeira música, o que mais se confere são manifestações fantasiosas, cinematográficas como trilha sonora e, claro, com todo um conceito épico. Sendo assim, músicas como “The Calling Of The Sea” reflete nas grandes navegações marítimas, onde os primeiros desbravadores se aventuravam aos sete mares. Você perceberá que toda magia envolvida nos acordes e arranjos pertencem, ou apontam, a uma época lembrada hoje por folclore e lutas registradas pela história.
A propriedade com que Fyremoon toca suas notas é de uma autoridade única. Ou seja, o projeto reproduz toda uma atmosfera medieval, mesmo usando recursos atuais como os teclados em “Round The Tables And Mind The Ale”. Dessa maneira, a emulação não sai prejudicada, mas isso não quer dizer que o músico dispense instrumentos como flauta, violino, harpa, concertina e até mesmo Bodhrán. O resultado de tudo que está aqui é lindo e providencial e ainda tem um peso cultural enorme, não apenas para a cultura europeia, como para toda a cultura mundial. Reforçando, devemos lembrar que a música é universal.
Músicas medievais possuíam ritmos distintos, muitas vezes, dependendo da ocasião o ritmo era mais alegre, romântico ou soturno. Em “Warmth Of The Fire”, por exemplo, temos uma mistura de climas que pode ocasionar melancolia, mas também pode possuir um sentido encorajador. Independe de como estão os dias do ouvinte, em outras músicas como “The End Of The Road Inn”, seja pelo calor de uma luta ou pela dor de uma perda, podemos ser presenteadas pela magia dessa doce trila. Além disso, melodias como esta pode dar asas a imaginações muito mais complexas, assim como soam as próprias notas. De todo caso, a essência está no encanto.
Uma das coisas naturais que acontecem quando ouvimos as músicas do Fyremoon, é a viagem espiritual. Em faixas como “While The Horses Sleep”, nos sentimos flutuar sobre montanhas recebendo no rosto uma massa de ar quente, de maneira idêntica “The Red Cloak” casa mesmas impressões. Uma bela viagem conduzida por melodia leve e encantadora, porém, há outras como “Another Round” que nos faz despertar e bailar ao som de um inquietante violino. Essa troca de ritmos diz o quão versátil é esse projeto, embora a direção musical seja bem definida. Mas o uso dos instrumentos em cima de cada tema, é manuseado com tal competência que a espontaneidade se destaca.
Uma lembrança de vila camponesa pode ser personificada em “The Sleeping Dog Inn”, cuja imagem de um cão repousando à propriedade de seu dono pode surgir na imaginação. O violino, como principal condutor da melodia, já é um instrumento harmonioso por si só e, aqui, o seu protagonismo é ainda mais relevante. Já em “The Flute and Fiddle Inn”, esse destaque é compartilhado com o som sedoso de uma flauta, mas o andamento é bem mais empolgante. Uma música que, aos nossos ouvidos, é como se fosse o sopro de uma brisa forte à beira de uma praia.
Sobre a criatividade deste autor, como já foi dito, neste ano de 2024 já foram lançadas seis obras completas. Dessa maneira, é correto afirmar que estamos diante de uma mente altamente dinâmica, inquieta e esclarecida, pois esse tipo de música é consumido por um nicho altamente selecionado, que vai desde simples entusiastas pela arte a grandes aristocratas. Ou seja, são execuções para um público de finíssimo bom gosto, pois de outro jeito, como uma pessoa normal de gosto popular reagiria a acordes performáticos como em “Ale And Friends”? Embora seja isso uma realidade, a música está ai para ser consumida por qualquer classe social, até porque seria um verdadeiro crime privarmos alguém de receber os doces encantos de músicas como “The Forest Inn” e todas as outras. Não há comparação da sensibilidade musical de Sebastian com algum outro compositor contemporâneo. A mente da qual se extrai obras como esta, e ainda por cima as produz, só pode ser abençoada por forças misteriosas e divinas. Para o nosso deleite, podemos contar com toda a sua inteligência materializada em melodias, ritmos e harmonias. Digno de prêmios, simplesmente.
Ouça “Tavern Inn The Woods” pelo Spotify.
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