Alex Wellkers lança álbum variado e com tons de drama

Quando vemos a variedade de instrumentos nos arranjos das canções deste álbum de estreia do suíço Alex Wellkers, ligamos os pontos ao saber que, aos 6 anos de idade ele já tocava acordeom. Depois, o artista, que além de multi-instrumentista é um apreciador de música em geral, aprendeu gaita, teclado e violão clássico antes de encontrar sua paixão em tocar blues em uma guitarra elétrica.

Apesar deste ser o seu primeiro trabalho cheio, Alex, que iniciou sua carreira há dez anos, mais precisamente em 2014, lançou vários trabalhos em outros formatos, principalmente EP’s. Logo, não estamos diante de uma estreia fonográfica, mas sim de algo mais amplo.

Outro fator importante é que, apesar do que descrevemos, ou seja, de ele tocar diversos instrumentos, não estamos diante de um trabalho ‘one-man-band’, pois ele contou com diversos músicos convidados, além da produção primorosa do disco ter contado com mixagem de Stephan Steiner e masterização de Dan Suter.

Intitulado “Fly Away”, o trabalho é uma viagem dentro do rock e suas diversas facetas, além de flertes e incursões de instrumentos não muito comuns no estilo. Porém, nada aqui é fora do normal e/ou experimental, sempre tendo um resultado final de fácil assimilação para o ouvinte, além de muito agradável e equilibrado.

São onze composições, onde o equilíbrio do repertório fica mais latente em cada audição de seus pouco mais de 37 minutos, onde, além da versatilidade sonora, Wellkers também varia na língua. Na maior parte ele canta em inglês, mas há canções em francês e alemão, honrando seu país poliglota, no caso a Suíça.

O mais incrível é a objetividade das canções, sendo que nenhuma passa dos cinco minutos e a média é de três minutos, e mesmo assim ele consegue explorar tudo com alternâncias de ritmo, variações e arranjos riquíssimos em termos de conteúdo. Os temas também são variados, desde metafóricos a mais realistas, porém sempre acompanhando o tom dramático do disco.

O início com “You Want Us”, uma breve faixa de menos de dois minutos e um violão certeiro, vai deixar fãs de Radiohead e David Bowie exaltados, pois bebe nessas fontes e já denuncia o teor melancólico que permeia o trabalho. Totalmente acústica, a faixa é praticamente uma abertura (literalmente) de “Fly Away”.

Também com um início acústico, mas logo ganhando as guitarras de riffs sucintos de Alex, “We Celebrate” chega mais dinâmica e se mostra uma das composições mais enérgicas do álbum. O primeiro drama chega com “Making Progress”, onde o celo e o violino entram de vez e acompanhado por um violão certeiro e linhas de voz dramáticas, mexe com os brios do ouvinte e praticamente se torna um doom quando as guitarras surgem.

Aliás, a inclusão do violino e violoncelo vão se tornando mais intensas, e a introdução de “Grab The Stars” com um solo de violino em cima do riff de guitarra já ganha o ouvinte de cara. Logo “Niemals Jemals da Gewesen” surge, sendo a primeira a sair do contexto em inglês, mas mantendo o teor carregado e dramático do disco.

Depois do alemão suíço, ele chega com o francês em “Tu Sais Que Je T’aime”, e o que chama atenção na faixa é o fato de como a língua francesa tem sua musicalidade única. “We Try Our Best” simplesmente descamba para o doom metal de vez, com os riffs maciços e a cadência típicas do estilo, revelando muito peso e um ar mais fúnebre, saindo um pouco do teor dramático do disco.

O mais curioso é que, “What You Think Right Now” segue essa linha, mantendo o doom em voga, mas ganha mas dinâmica em sua levada, porém revela que Alex, mesmo sem querer, ouviu Black Sabbath e Candlemass em algum lugar.

Logo, a reta final chega com “We Belong Here” que traz um trompete bem sacado no início e uma base de riffs oriundas do grunge, revelando, bem no final da partida, que Alex é mais versátil do que se imaginava. Enquanto isso, a recomendada pelo próprio artista, “Amy”, se revela uma das mais belas e versáteis do disco, unindo em menos de três minutos tudo que o álbum contém.

“Do Not Fall” fecha o trabalho sem cair no clichê de músicas em clima de despedida. Pelo contrário, inova, mesclando o doom que apareceu mais do que se imaginava flertando seriamente com o hip-hop, provando que as fronteiras de Alex Wellkers, inclusive no idioma, que aqui ele simplesmente mescla inglês, francês e alemão.

Primordial, “Fly Away” é um trabalho completo, que pode parecer comum a alguns ouvidos, mas soa diferenciado pela sua versatilidade, coesão e bom gosto, transitando pelo rock, alternativo e botando um pé no metal, além de dar brechas para o hip-hop, indie e o próprio pop. Tudo com uma produção equilibrada, que soa orgânica e moderna ao mesmo tempo. Muito bom!

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