Artistas de vanguarda ainda costumam lançar álbuns, trabalhos mais completos que condizem com apresentar melhor sua arte. Com um mercado musical diferente e mais dinâmico, pode ser que isso não seja o ideal, mas sem dúvidas é a melhor forma de se apresentar uma obra.
Com o tempo escasso, os consumidores de música passaram a preferir singles, o que, de certa forma é legal, mas ainda muito superficial. Logo, álbuns cheios, com conceitos melhores explicados, músicas que se complementam e diversidade do artista acabam se tornando itens essenciais. Muitos músicos e bandas ainda apostam neste formato, ainda bem, que continuem.
Um deles é o britânico Andy Smyhte, que há mais de 20 anos lança álbuns, mas também aposta em singles e outros formatos, alimentando seu público e as plataformas da melhor forma possível. Não à toa que ele vem angariando mais fãs e conseguindo que sua música atinja cada vez mais público.
E, o mais importante, Andy continua evoluindo, nunca se sentindo satisfeito com o trabalho que apresenta (no bom sentido), inquieto e agregando ainda mais elementos à sua sonoridade, o que a torna mais abrangente, detalhada e cada vez mais interessante. Ou seja, como deve ser e será.
Intitulado “Poetry In Exile”, o novo disco de Andy Smythe ainda traz uma produção muito bem lapidada, com captação perfeita e uma naturalidade que é importante para o conteúdo, já que ele entrega composições que tem riquezas nos arranjos, além de muitos detalhes executados por instrumentos orgânicos, desde cordas, sopros e teclas.
O compositor americano Chris Payne e o produtor Dave Palmer, com os músicos Beatrice Limonti e Jimmy Van Lin, estão ao lado de Andy nesta empreitada, onde ele trabalha em um tema conceitual, que traz uma história atemporal, que logo serve para diversos casos que vivemos atualmente.
O roteiro de “Poetry In Exile” mostra a luta pessoal de um poeta musical exilado em um mundo da política corrupta (como a figura histórica Ovídio), que ainda acredita no poder libertador da canção. Tudo com uma trilha sonora onde o folk, britpop, power-pop, rock se entrelaçam, entregando treze composições atemporais.
Sem cerimônias, Andy começa o disco com “Ghost In The Machine”, onde a faixa não tem uma introdução, com o cantor indo direto ao ponto, contrariando os inícios de álbuns, entregando um rock psicodélicos a lá David Bowie (ume de suas influências), com um piano intenso e naipe de metais com foco nos graves, que explodem em vibração. Que começo, meus caros!
Logo chega “Out Of My Mind” um folk que ainda carrega teores de psicodelia, que logo nos dá a entender porque se trata da música de trabalho do disco (foi lançada como single anteriormente). De melodia fácil, a canção traz um trabalho primoroso dos metais, além da base de violão e um refrão encorpado.
“Don’t Be a Fool” ainda vem com os elementos folk, apresentando um ar mais descontraído, um baixo estonteante e uma gaita espetacular. Surpreende o quanto ela cresce, mesmo mantendo seu ritmo cativante. Enquanto isso “Prodigal Son” entrega um ar mais introspectivo, com detalhes para o violino espetacular de Beatrice Limonti e o trabalho vocal primoroso. “Dear Landlord” não perde a pegada ‘bela’ e chega como uma peça de piano que vai ganhando corpo e se transforma num pop ‘old school’, que deixaria Lennon e companhia orgulhosos.
O power-pop aliás dá as caras com a agitada “Leaves To Burn”, com seu ritmo intenso, solo de guitarra magistral e um órgão fundamental. E eis que chega a maravilhosa faixa título, onde um acordeom é adicionado, dando um diferencial espetacular. Com andamento bem dinâmico e uma interpretação impressionante de Andy, a faixa nos remete a Tom Petty and the Heartbreakers.
Eis que mais da metade de “Poetry In Exile” se esvai e quando achamos que nada irá nos surpreender, chega “Power is a Drug”, uma faixa sucinta, com um ar mais moderno e ainda mantendo o ar psicodélico que permeia o disco. “Riverman” volta ao folk, mas com um ar moderno, trabalho vocal magistral, um violino encantador, além de orquestrações de tirar o fôlego.
Entrando para a reta final, “Raggle Taggle England” começa com lindas vocalizações que logo entram num folk moderno mais simples e direto que sua antecessora, mesmo assim, rica em arranjos e orquestrações. Enquanto isso, “Judgement Day” traz um espectro de Bob Dylan mais agitado e encorpado, revelando mais uma influência de Andy.
“No Pasaran” e sua letra memorável tem um piano tenso, o melhor do disco todo, além de uma interpretação cheia de gana Smythe, que canta com afinco em meio a música mais erudita do trabalho. E, por fim, “Everything’s a Bit Broken” fecha o disco na melhor veia Bowie possível, inclusive com um teclado que faz uma cama encantadora, porém com um ar mais sério. Que disco bacana, dá vontade de apertar o play assim que acaba, aliás, isso deve ser feito de qualquer maneira.
‘discovered and supported via Musosoup #sustainablecurator’
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