O primeiro álbum completo do Solwater, “Feel It All the Way”, lançado pelo próprio selo, é um verdadeiro encontro entre o psicodelismo e a música progressiva, em uma roupagem completamente moderna. Os temas, sempre ligados aos sentimentos, são verdadeiras pontes para uma viagem astral. Ao todo, são nove canções, onde a primeira, “Belonging”, já te condiciona a um estado de relaxamento incondicional. A mesma textura musical é encontrada em “Fears Falling Away”, com um belíssimo acorde orquestrado por uma energia positiva e contagiante. O que vem adiante, são ramificações dessa energia sempre em renovação.
Responsáveis por esse universo sonoro, Luke Anderson (guitarra e vocal), Aea Luz (vocais), Jakob Pek (guitarra solo), Jared May (baixo) e Salif Bamakora (kora) transformam percepções e instintos em linguagem musical, de uma forma tão natural que parece ser fácil, tão grande é a fluidez dos versos, melodias e arranjos. Em “Follow the Road”, por exemplo, sentimos isso percorrer em nosso sangue como magia, como se, de fato, estivermos flutuando em uma estrada a caminho do desconhecido ou de uma redenção. O destaque do solo de violão, é evidente na faixa e é como se ele fosse o condutor dessa viagem.
Aos mais perceptíveis, verão que “Feel It All the Way” é um álbum com fortes influências da música oriental e celta. No entanto, o folk ocidental é bem presente em canções como “Courage”, a primeira com marcante performance de Aea Luz, onde sua voz penetrante em dueto com a voz aveludada de Luke Anderson, nos fornece grande paz de espírito. Aqui, conseguimos sentir em uma única linha sonora, as qualidades musicais e vocais da banda. Mas tais atribuições não são exclusivas dessa faixa, pois o estilo do grupo é todo dimensionado a essas impressões. Portanto, o que é impressionante, estará sempre no conjunto da obra.
Mas como toda grande banda há sempre um grande mentor, em Solwater não poderia ser diferente. Aqui, Anderson é o cérebro pensante que compõe todas as músicas. Sobre isso, é impressionante a sua sensibilidade, condução e sensatez musical ao compor títulos como “Lovers Song”. O artista sabe encaixar perfeitamente cada ponte, cada caminho harmônico para uma bela melodia. Sem agredir a audição, a melodia parece escorregar sobre um véu de seda, envolvendo você por uns agradáveis minutos. Sorte de quem aprecia uma boa música por descobrir uma banda como essa, que trata tão bem os nossos tímpanos.
E esse encantamento se estende por muitas outras canções. Além do bom estado de espírito, da massagem na consciência e na cura do estresse, o Solwater também nos proporciona empolgação em músicas como “Feel It All the Way”. A música título do álbum pode ser comparada a uma trilha sonora para quem procura, com positividade, alcançar alguma meta. Com instrumentação mais rápida, o tema é bastante cativante e nos convida a abrir todas as janelas de casa. Sim! Afaste as cortinas, abra as portas e deixe os raios de sol te tocarem enquanto escuta esta música. Garanto que o restante do seu dia será melhor.
Embora sentimos que algumas melodias sejam construídas para o ouvinte não se expor a uma experiência saturada, a grande sacada do Solwater é a virtuose. Em músicas como “Sing the Circle Open Wider”, onde as frases instrumentais são mais diretas, ainda assim apresenta um trabalho maravilhoso e complexo de condução. Aqui podemos observar a sutileza nos dedilhados e a calma nos vocais, respeitando cada sequência da harmonia. Em outras palavras, trata-se de mais um exemplo da naturalidade que a banda tem de penetrar o nosso subconsciente, com ondas sonoras palatáveis aos nossos sentidos.
Neste lançamento também há músicas para você ficar imaginando navegar por um oceano de águas tranquilas, onde o vai-vem das ondas pode se comparado aos acordes suntuosos de canções como “Sea of Stars”. Apesar de o título se referir a estrelas, você pode soltar a imaginação como quiser. A arte sempre será relativa aos olhos de quem vê, ao tato de quem sente e, neste caso, aos ouvidos de quem ouve. Portanto, em uma viagem como essa esteja à vontade para discorrer sobre as suas experiências. Não há como ficar inerte diante de tanta melodia, sem olhar para dentro de si e tentar arrumar as turbulências.
Como tiro de misericórdia, “Jaguar Calling”, encerra o álbum com um misterioso chamado de flauta. Essa faixa é como se fosse um epílogo que sela a câmara que foi aberta para libertar a magia das oito músicas anteriores. Se você ouvir este álbum e conseguir chegar até aqui sem nenhuma interrupção, muito provavelmente se sentirá uma nova pessoa após as audições. Se despertará com um novo fôlego e, quem sabe, com a alma expurgada para uma nova vida. Tudo aqui é minunciosamente cuidado para que você tenha uma boa experiência. Desde a produção competente às composições geniais.
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