Ehrah: novo disco “Stardust Genesis” convida para uma viagem viciante

“Stardust Genesis” é o segundo álbum do canadense Ehrah, sucedendo o debut “Light Years to Echoes”. O novo álbum traz cinco composições já lançadas como singles e cinco inéditas, englobando a proposta synthwave que o projeto sempre almejou, mostrando uma sonoridade ainda mais lapidada.

“Stardust Genesis” é uma evolução natural do primeiro disco, apesar do antecessor ter a maioria das faixas instrumentais. O negócio aqui teve papeis invertidos, e o novo trabalho, apesar de trazer faixas instrumentais, tem a maioria com vocais, inclusive sendo marca registrada, já que conta com diversas participações especiais.

O primeiro trabalho experimentou neste conceito, mas ali foi elaborada a sonoridade do Ehrah, que ganha mais elementos, além de vocais, neste novo disco, sendo mais um grande passo do projeto. O mais importante é que a fórmula funciona, e mesmo contando com diversos vocalistas diferentes, o trabalho tem sua identidade mantida, as características preservadas e soa homogêneo.

Como dito, o foco é o synthwave, mas o leque aqui é muito aberto, com uma amalgama de estilos se entrelaçando, gerando um sabor único. No entanto, o ouvinte irá se deparar com rock (isso mesmo!), dance, synth-pop e até leves toques de progressivo, mas sempre com um ar espacial e futurista.

O trabalho dos sintetizadores é perfeito, na medida e mostrando um equilíbrio imenso. Tudo parece ter sido calculado com maestria, se encaixando perfeitamente às canções, onde praticamente todas os tem como base. Só que “Stardust Genesis” não fica à mercê disso, e possui elementos de guitarras, um baixo presente e a condução percussiva bem marcante.

Isso já é notado na primeira faixa, a instrumental “Stroboscope”. Abrindo o trabalho, tem um início misterioso, nos convidando a viagem que é o disco. Com cara de abertura de série, enquanto vai ganhando corpo, ela hipnotiza o ouvinte, e com um final apoteótico, tem um solo de guitarra espetacular em sua última parte. O convite está feito.

Esta guitarra aliás dá as caras já na introdução de “Spike’s Song”, a segunda composição que já inclui vocal e participação de VNMC, que encaixa sua voz suave e sombria, mostrando que o Ehrah acertou em cheio ao incluir vozes em suas novas canções, dando ainda mais qualidade. VNMC também aparece na faixa “Gamma Loner”, que traz elementos de lounge, a funk / disco “By The Weekend” e “Constellation”, sendo a principal participação do álbum.

Mas, outros artistas contribuem, se destacando também e sendo fieis à proposta musical. LAU faz um trabalho excelente em “Galaxy”, a música mais dance/pop do trabalho, onde encaixa seus vocais típicos das divas do pop alternativo oitentista. Com uma batida semi-cadenciada, e um baixo contagiante, a música encanta do início ao fim, além de também trazer um solo de guitarra sintetizado único. LAU também aparece na faixa “Give Me A Sign”, que praticamente traz o mesmo contexto, soando mais pop e radiofônica ainda.

Em “A Little Time” quem dá as caras é Power Rob, a voz mais pop e atual do trabalho. Jovial, pode angariar fãs do R&B facilmente, mostrando um ‘feeling’ impressionante, em uma faixa de dinâmica e melodia simplesmente contagiantes. O mais legal é que, naturalmente, as características do Ehrah são mantidas a finco, um dos pontos fortes do projeto, diga-se de passagem.

Além da já citada faixa de abertura, “Stroboscope”, há outras duas músicas instrumentais. A título, que fecha o disco com o astral lá em cima e ótimo solo de guitarra, e “Interestellar”, uma potente composição que traz sintetizadores viciantes, nos levando a uma viagem musical inesperada, mas muito agregadora. É a mescla perfeita do syntwave com o dance.

Bobthesheep e Aaron Scott contribuíram para a parte instrumental, principalmente o trabalho de guitarras e baixo. E é importante destacar essas linhas instrumentais, que são tão primorosas no disco. “Stardust Genesis” traz músicas vibrantes, com boa dinâmica, graças às batidas precisas, e as linhas de baixo pulsantes. Com efeitos que enfatizam essa pulsação, acaba invadindo a alma do ouvinte.

Os solos de guitarras são outros elementos essenciais no trabalho. Incluídos de forma oportuna e necessária, são essenciais, principalmente nas faixas instrumentais. Caem como uma luva, elevando ainda mais as melodias das canções, e trazendo a leve veia rock e progressiva do álbum.

A sensação ao finalizar “Stardust Genesis” é tão estranha (no bom sentido), que parece que estivemos em outro mundo durante sua audição, tamanha é a hipnose que o disco causa. Mas, mentalmente, não estivemos em outro mundo? É bem provável que sim, pois, além de querermos refazer essa viagem, demoramos alguns minutos para nos reintegrar à realidade física.

Isso significa que a proposta do Ehra, em nos manter entorpecidos enquanto seu synthwave se mesclava com diversos outros estilos, deu certo. Mas, o mais importante, é que esse vício que o disco nos causa, não faz mal, pelo contrário, nos oferece o melhor do entretenimento e da diversão. Uma obra prima.

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