A capital da Alemanha, Berlim, sempre se prezou por ser um vulcão em eterna erupção mediante a projeção incessante de novos talentos pelo planeta, além da solidificação de gêneros em caráter único. A música eletrônica sempre esteve em destaque absoluto perante solos germânicos e além do papel inerente enquanto precursores, sacodem o estilo para direcionamentos imprevisíveis que acabam trazendo suspiros esfuziantes dentro do cenário vigente. HOLY B é um desses nomes que absorvem referências díspares do cenário berlinense em prol de uma solitária revolução sonora dentro daquele arquétipo punk do “faça-você-mesmo”!
Músico experimental, baixista e produtor de funk progressivo, tem progressão transgressora perante o fazer artístico promulgado de forma totalmente independente, como acontece de praxe regularmente em seus trabalhos. A incidência de samplers nessa arquitetura conceitual, trafega o ouvinte para instâncias futuristas, esfumaçadas e underground, apesar de ainda simultaneamente sugerir uma infindável gama de possibilidades estéticas.
O terceiro volume da saga “Adventures in Lo-Fi”, mostra o agitador cultural em seu ápice, desbragando maturidade musical em sete faixas arrebatadoras, mas deixando claro sua amplitude pela busca frequente de “uma batida perfeita”, fazendo uma metáfora com o rapper que difundiu no início de sua carreira este conceito no Brasil, o Marcelo D2. Mas vamos ao disco/cassete, analisando faixa a faixa…
A abertura com “Mica Inc.” já chega mostrando a verve identitária do artista: sintetizadores eclodindo em “ataque” intermitente, tal qual uma sirene sem ser desligada. Mas promovendo um efeito sensorial sedutor e imediato, inevitável não sermos devidamente captados por esse espectro inicial. A variação para probabilidades eletrônico-funkeadas recebe beats e grooves dilacerantes, que acenam diretamente para as pistas ao mesmo tempo que a cerebralidade do arranjo salta aos olhos! É a “simplicidade” sendo desprendida para probabilidades únicas e altamente sedutoras.
O funk futurista “a la Prince”, “Voodoo Dance Track”, além do poderoso baixo sintetizado, recebe batidas que chacoalham imediatamente o cérebro e fazem nosso peito saltar furtivamente, assim como os pés que se recusam a ocupar o chão por muito tempo… A virulência promove este impacto perante nossas ações neste mundo e como todo o material deste registro, garantem a trilha-sonora de uma festa simplesmente inesquecível. O vocal bradado com urgência hardcore e embebecido em efeitos, remetendo a uma espécie de “robótica-dark”, profere uma poética que realmente “salta aos olhos e ouvidos” em sua profundidade humanizada: “tome seu tempo ingênuo e livre, deixe seu coração crescer doce e ternamente. A força que você precisa já está em você, vá em frente e deixe-se ser também.” Essencial!!!
“Wacky Heirdo” trabalha dentro da logística hip-hop experimental, com estruturas dissonantes eclodindo em perspectivas que soam como uma sucessão de elementos surpresa, tal a repercussão gradativa que esta experiência nos provém. Mais uma vez o autor trabalha dentro de uma urgência como se fosse um brado escapista explodindo perante o espaço, pois além da criatividade inerente presenciamos uns aspectos de fúria bastante abrasivos para nossa receptividade energética!
“Dripping Taste of J” vem com uma aura alternativa, garagera e deliciosamente lisérgica em sua estrutura primordial, além de prognósticos contemporâneos (uma sutil incursão EDM) e novamente o incrível vocal sintetizado profere uma metralhadora giratória de versos incisivos e metafóricos: “você pinga para mim eu pingo pra você, nós pingamos juntos até o fim e através”. As expressões “pingado” e “tropeçante” são reverberadas frequentemente em digressões poéticas amplamente aliciantes aos nossos sentidos! É realmente uma obra que suscita seguimentos proeminentes, afincada em impactos frequentes, um verdadeiro efeito de montanha-russa desgovernada.
“Future is OK, Qts for the win” é uma verdadeira pérola do caos, com a base ampliada em experimentalismos implodindo nossas cabeças em paradigmas hipnóticos que resultam numa sensualidade natural. A repetição da base abrangendo todas as ressalvas que invadem a viagem promulgada, proporciona um efeito de amarras sensoriais absurdamente irresistíveis em nosso campo imagético, já que o contexto de uma trilha-sonora apocalíptica se faz presente em recursos inerentes a nossa vontade! Exatamente o contrário do que o protagonista balbucia em suas estrofes metalizadas: “ei, não me assuste, tire aquele pouco de controle que eu acho que ainda possuo. Esta é a minha zona, saia do meu ferro jogado!”, e isso torna a experiência ainda mais fantástica.
“Sneakim Around” é uma progressão de batidas e sussurros que parecem soar desconexos, mas o que não falta é sentido exato e absoluto perante esse diálogo tão preciso frente as partes. E tome beats e batidas que jogam tudo a sua frente pelos ares, de tanta força dilacerante! Implode nosso sentidos em condições emergidas de puro prazer, é realmente ressignificante nesta jornada.
A poderosa encore “No Stank over here” (uma espécie de vinheta) sintetiza tudo o que vivenciamos até então, um caminho misterioso, carregado de riscos, mas inevitável em ser percorrido. Simplesmente SENSACIONAL “Adventures in Lo-Fi” Volume Três, que a saga continue nas formas surpreendentes que HOLY B costuma nos impactar veementemente. Mergulhe em toda a complexidade desta verdadeira obra-prima, disponibilizada abaixo:
https://holyb.bandcamp.com/album/adventures-in-lo-fi-vol-3
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